MORANGO DO NORDESTE - 2022
IA + COLAGEM DIGITAL
Morango do nordeste é uma série de 5 colagens digitais, construídas por mim em parceria com uma inteligência artificial. O ponto de partida é uma foto dos meus avôs em foto-pintura. Eu nunca havia visto os meus avós paternos em fotografia, e meu tio mencionou a existência dessa imagem para que eu pudesse conhecê-los. Foram anos até que a foto fosse encontrada, nesse tempo especulei das mais diferentes formas e possibilidades o rosto dos meus avós.
O trabalho começa com essa especulação imaginária. No google ao colocar “foto pintura” surge como resultado uma série de imagens. Escolho cerca de 40, no photoshop vou cortando olhos, bocas, nariz, peças de roupa. Recrio os meus avós da forma que eu quis imaginar, chego em uma primeira imagem. Levo esse resultado único para a inteligência artificial, e a máquina processa a imagem, recrio 36 variações, recorto novamente olhos, boca, nariz, roupas, acrescento tatuagens, maquiagens. Depois de 3 ciclos de composição e recomposição de imagens, chego ao número de 5 imagens finais. Morango do Nordeste 1 é a primeira dessas imagens, hoje faz parte do acervo permanente da pinacoteca do Ceará.
Há nesse trabalho uma discussão profunda, complexa sobre os possíveis futuros da arte, especialmente a que usa de artifícios sonoros e visuais. A inteligência artificial surge forte nesse período final da pandemia e a pergunta ontológica ressurge: O que é arte? Walter Benjamin explode e profetiza, as máquinas agora não apenas reproduzem, elas criam, e atestam um novo desafio as técnicas e suportes na arte contemporânea.
Por outro lado, mesmo usando desse artifício tecnológico, obscuro e misterioso que quase retoma a aura das imagens, reforço o gesto da mão novamente, a mão que corta e pinta usando uma tesoura e um pincel virtual, recomponho as imagens da máquina, tenciono o resultado que elas me entregam e reverencio outro repertório, o da foto pintura cearense, um gesto anterior, que não é menos tecnológico, ou algorítmico. Foto pintores como Telma Saraiva e Mestre Júlio, foram os avós da inteligência artificial, foram responsáveis por recompor o imaginário das famílias cearenses, misturando imagem real e ficção.
Nesses ciclos de composição e recomposição reverencio esse imaginário ao mesmo tempo que trago a máquina para essa conversa recompondo meu lugar de autoria e criação.
